Acordo, levanto da cama, espreguiço-me, dou alguns passos e olho por uma fresta da janela, nada de novo, tudo ocorrendo normalmente. Tomo um banho, escovo os dentes, saio do banheiro e vou até a cozinha preparar um café.
Enquanto tomo o café, ligo a televisão. De repente sinto uma tontura, nada me vem à cabeça, coloco a xícara na mesa e sento no chão. Estou Morrendo...
Mas porque assim? Nada do que eu esperava sobre a morte acontecia. Tudo o que vi nos filmes, não faz sentido. Sem a visão embaçada, sem o sangue a escorrer sobre minhas vestes, sem um culpado. Não pensei em minha vida, nem mesmo a voz foi enfraquecendo, tinha forças pra gritar, pedir ajuda. Mas, me perguntei, por que? Por que deveria gritar por socorro? Quem iria me ajudar? Adiantaria de algo? Valeria a pena? Em todos estes anos, quando precisei de ajuda, alguém me socorreu?
Nem sei bem ao certo se estou morrendo, não morrendo em seu sentido absoluto, mas morrendo do desgaste da vida, morrendo de desgosto do que se tornou o ser humano, de como a vida se tornou banal.
Hoje percebo que tudo que fiz foi em vão, a intensa dedicação ao trabalho, o valor as coisas materiais, os momentos em que deixei de lado até mesmo minha família para trabalhar para conseguir comprar aquilo que desejava. Nada valeu a pena
Ao Mesmo tempo em que vou perdendo as forças, ainda ouço a tv ligada e as notícias:
“...morreu a caminho da escola...”
“...assassino é solto por ordem judicial...”
“...bala perdida mata duas crianças...”
O fim está cada vez mais próximo... não só o fim da minha vida, mas o fim do que resta de ordem, o próprio fim do mundo.
É, morrer não está sendo tão ruim como eu pensava, estou saindo de um mundo ganancioso, corrupto e inescrupuloso. Foi melhor assim, o destino me poupou. Poderia ter sido baleado, poderia ter sofrido um acidente ou, pior ainda, poderia ter continuado vivo..